Mês da Consciência Negra – Como é ser uma jovem preta na sociedade atual. Pontos positivos e negativos por Julia Cecília da Silva Custódio, estagiária do PAB – Programa Antonieta de Barros da Alesc

Bom, dados o IBGE de 2022 mostra que mais de 56% da população no Brasil é preta, mas mesmo assim continuamos sendo a minoria independendo do contexto que está sendo aplicado. Eu como uma mulher preta do século 21, sendo ainda um adolescente de 17 anos, mesmo depois de tanto anos, tanta evolução mental e tecnológica feita pelo ser humano, ainda me sinto como as mulheres pretas do século 16, por exemplo, como uma mulher que é vista só para servir ou ser símbolo de “beleza excêntrica”, uma preta que é vista nos lugares só fortalecer a política governamental de “cotas”, com o intuito de “Olha, colocamos uma mulher preta neste lugar para inclui-lá na sociedade, não somos mais racistas”.


Neste momento que estou escrevendo este texto, não vejo um sentido para minha existência e acho que isso é uma coisa muito comum em pessoas pretas, onde por uma fase da sua vida fica questionando qual é o seu papel no mundo, se é para servir ou só para sobreviver com medo do que pode acontecer com você quando sai de casa a noite, ou só simplesmente sair sem seu documento.

Vivo em uma luta constante comigo mesmo onde tento fingir que não me importo ou não me abalo com comentários de cunho racial, ou com olhares julgadores que dizem “O que ela está fazendo aqui”, ou se sentir constantemente vigiada ou sexualizada. Mas, sei que quanto mais eu ignoro, mais atacada, rebaixada e desvalorizada eu serei a todo o momento, que eu preciso fazer alguma coisa para tentar mudar essa minha realidade. Sei também que, eu fosse um homem eu já estaria há muito tempo em um dos dois lugares, a sete palmos do chão ou atrás das grades, como já aconteceu com meus familiares e amigos pretos.

Sinto que também sou uma mulher preta “privilegiada” dentro do meu ciclo, dentro das minhas estatísticas, que sou criada por uma mãe solo preta maravilhosa, que sempre incentivou eu e os meus irmãos a estudar para conseguir a ser “alguém na vida”, e seguir os princípios básicos para não “darem motivos” para acontecer algo com a gente. Foram sempre assim, os seus avisos para os seus filhos quando saiam de casa, tanto faz se era para ir até a padaria do lado de casa ou para quando íamos para escola ou trabalho, sempre foi em tons de preocupação, o que é normal vindo de uma mãe, mas uma mãe preta que tem seus filhos pretos sempre é mais do que avisos, vão mais além, é medo do seu filho fazer o mínimo e já ser condenado pela sociedade, seja do modo radical ou não, sempre irá deixar um ferida que será difícil de ser cicatrizada.

Ainda não me senti definitivamente valorizada como mulher e sinto também, que isso acontecera quando eu me tornar alguém de relevância, que só será lembrada ser revolucionar algo, como a primeira mulher negra a fazer alguma coisa, isso também ser o meu mérito não foi tirado de contexto por uma pessoa branca como podemos ver ao longo da história da ciência.  Como alguns dos diversos pontos negativos de ser uma mulher preta na sociedade, é também a questão do constante sentimento que eu preciso ter de aprovação, onde eu sempre preciso estar extremamente arrumada, maquiada e bem vestida para ser vista de modo diferente do que pessoas pretas são constantemente vistas. Sempre fui muito sexualidade, mesmo não sendo o padrão, parece que só pelo fato de eu ser uma pessoa preta, eu já sou vista como uma espécie de “oferenda sexual” para os homens, mas é só para isso, nunca para entrar em um relacionamento ou para ser amada, para eu me sentir confortável, sempre vista como um troféu para vaidade e ego interior do outro, como dia a cantora Alcione, “Só pra ter alguém que vive sempre ao seu dispor, por um segundo de amor”.

Acho que, de pensamentos e reflexões positivas não existem muitos, por mais que eu odeie ser uma pessoa negativa e vitimista (palavra usada por pessoas brancas para se referirem a pessoas pretas que expõe os seus sentimentos), ainda tento ver um lado bom que é passar alguns dos meus ensinamentos que aprendi com mulheres pretas que possuem mais tempo de vivência (por mais que tenha vezes que não coloco em prática), para meninas pretas que estão crescendo e criando uma mentalidade daquilo que está ao seu redor. Que elas cresçam entendendo como ela é vista no país e que moram e como devem combater essa violência e desinclusão.

Autora: Julia Cecília da Silva Custódio