Sub-representação feminina e racial na mídia ameaça democracia

A presença feminina na mídia e na política, com diversidade racial, é um tema vital para a democracia, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Este foi um dos pontos levantados, nesta 3ª feira, 25 de abril, no encontro entre a procuradora Especial da Mulher do Senado, senadora Zenaide Maia, e a jornalista estadunidense Cristal Chancellor, sobre a presença feminina nos espaços de poder realizada na Procuradoria da Mulher do Senado. A diretora-Geral do Senado, Ilana Trombka, e a coordenadora do Comitê de Equidade de Gênero e Raça do Senado, Stella Maria Vaz, também participaram da conversa.

Cristal Chancellor cumpre uma agenda de palestras e debates sobre o tema, a convite da Embaixada dos Estados Unidos. A jornalista é diretora do Women’s Media Center, uma organização não governamental fundada em 2005 a partir da articulação de feministas internacionalmente conhecidas, como Gloria Steinem, Jane Fonda e Robin Megan. “A ideia era criar uma organização que favorecesse a presença das mulheres e as fizesse mulheres visíveis e poderosas na mídia”, disse Cristal.

Nos Estados Unidos, as mulheres são cerca de 51% da população, mas sua presença na comunicação não é equivalente – as mulheres são apenas 41%, número que decresce para as chamadas mulheres de cor (asiáticas, latino-americanas, negras). “Isso é uma ameaça à democracia”, disse a jornalista, pois os homens não são apenas maioria no conjunto – prevalecendo de forma ainda mais aguçada nos espaços de tomada de decisão acerca do que vai ser noticiado ou não.

Jornalista de mídia impressa durante muitos anos, Cristal narra que passou por todas as funções numa sala de redação e sua trajetória a estimulou a se transforma numa militante pela ascensão das mulheres aos cargos-chave da imprensa, responsáveis pelas decisões grandes e estratégicas.

O Women’s Media Center trabalha em várias frentes, como a qualificação de mulheres da mídia independente e a formação de um banco de nomes, com a exposição de mulheres especialistas que podem servir como fontes da imprensa. De acordo com Cristal, há apenas 25% de mulheres no universo dos especialistas aos quais a mídia recorre para conversar – interpretando ou opinando – sobre o significado, a consequência ou as implicações daquilo que é noticiado.

Sub-representação política

“O meu sonho é que um dia a gente não precise, Cristal, de instituições como essa – maravilhosa! – que vocês criaram para estimular a diversidade de gênero e de raça na mídia”, disse a senadora Zenaide Maia, antes de frisar uma série de dados que mostram como na política brasileira as mulheres lutam para ter uma representação parlamentar à altura da sua presença demográfica e social.

Procuradora da Mulher do Senado, a senadora disse que a ProMul também foi criada com o espírito de lutar por aquilo que deveria ser o normal. “Somos apenas 15 mulheres senadoras, num universo de 81 parlamentares e nunca tivemos uma mulher como presidente do Senado – sem contar que a presença na composição dos cargos da Mesa Diretora também não é representativa”.

A senadora Zenaide indagou a jornalista sobre a presença parlamentar das mulheres nos Estados Unidos. De acordo com Tobias Bradford, da Embaixada dos Estados Unidos, a presença feminina está por volta de 25%. “É um número superior à média de 17% de mulheres que temos nas Câmaras, nas Assembleias Legislativas e no Congresso – mas não tão superior”, observou a diretora-Geral do Senado, Ilana Trombka. 

Como exemplo de como a super-representação dos homens na política cria pautas, Ilana citou a votação em curso, na Câmara dos Deputados, de um projeto que anistia os partidos acusados de não cumprir as leis que foram criadas em 2018 para estimular a participação – competitiva e com verba – de no mínimo 30% de candidaturas. “Uma proposição de anistia como essa jamais prosperaria num parlamento em que as mulheres estivessem em pé de igualdade já com os homens”, completou a senadora Zenaide.

A senadora Zenaide elogiou também a prioridade que o Women’s Media Center deu à qualificação de mulheres que atuam fora da mídia tradicional. Ela falou a Cristal sobre a importância – democrática – da existência e atuação de meios de comunicação como as rádios comunitárias. “Eu costumo dizer que rádio comunitária é como a feira livre – onde a gente vai, negocia, conversa, discute! A feira livre tira a frieza dos grandes supermercados”, finalizou.

Coordenadora  do Comitê de Equidade de Gênero e Raça do Senado, Stella Maria Vaz entregou à jornalista Cristal Chancellor um conjunto de publicações sobre iniciativas que o Senado Federal adota, desde protocolos para coibir e reprimir o assédio sexual e moral à reserva de cotas nos contratos terceirizados para mulheres que são vítimas de violência doméstica, passando por catálogo que divulga obras de autoras negras. 

Fonte: Senado Federal