Mês da Consciência Negra – Como é ser uma jovem negra na sociedade atual. Pontos positivos e negativos por Letícia Domingos, estagiária do PAB – Programa Antonieta de Barros da Alesc
Bom, pensei em muitas formas de começar a escrever sobre, principalmente os prós e os contras, mas eu realmente não consigo ver muitos pontos positivos nisso tudo, principalmente no racismo que eu e milhares de pessoas negras sofremos todos os dias, principalmente de forma velada. A frase que eu sempre falo, é: ‘’Ninguém nasce se odiando, a gente aprende a se odiar’’. Eu não nasci achando que meu tom de pele é feio, eu não nasci achando que se eu tivesse cabelos lisos, nariz fino e uma boca menor, as pessoas iriam gostar de mim, eu não nasci odiando partes de mim, que me fazem ser quem eu sou hoje. Quando eu era mais nova, eu sempre tive a vontade de ser branca e por vezes perguntava para minha mãe
o porquê da minha pele ser diferente das outras meninas, e parando para pensar em tudo isso agora, hoje eu entendo o que uma sociedade preconceituosa pode fazer com você e o quão forte você precisa ser para não se deixar contaminar. Hoje em dia eu entendo que as milhares de ‘’piadas’’ que já fizeram comigo sempre foi racismo, nunca foi brincadeira e eu aceitava porque sempre me chamavam de ‘’chata’’ quando eu reclamava sobre.
Eu não consigo pensar pontos positivos em ser uma jovem negra na sociedade atual… Não porque não gosto do meu tom de pele, e sim porque a sociedade é muito cruel com jovens negros. Eu não consigo entender o racismo, nunca entrou na minha cabeça alguém poder odiar outra pessoa simplesmente por ter o tom de pele diferente, acho que isso é algo que eu nunca vou entender. É muito triste saber que as pessoas sempre vão me olhar estranho por causa disso, que quando eu entrar em qualquer loja, principalmente em shoppings, o segurança vai me seguir com medo de eu roubar alguma coisa, é muito triste a gente ainda ter que passar por isso. O cuidado de sempre que for entrar em um mercado e ter o receio de abrir a mochila por medo de acharem que vou pegar algo sem pagar, é horrível. É horrível o cuidado de sempre que for entrar em alguma loja, nunca entrar com as mãos no bolso e nunca colocar as mãos no bolso enquanto já estiver lá dentro, á não ser que eu queira um segurança me seguindo em cada parte da loja. Queria que tudo que eu tivesse falado aqui fosse da boca para fora, mas infelizmente são cuidados e situações que eu já passei/passo e ainda vou passar por muito tempo, até que nossa sociedade aprenda que caráter e crime não tem cor.
Acho que a única forma de mudar isso é colocando na cabeça das pessoas uma vez por todas, que nem eu e nenhum jovem negro somos diferentes só pelo tom de pele. Somos diferentes pela personalidade, temos gostos diferentes, etc. Agora me tratar como se eu fosse a pior pessoa do mundo por ser negra???? Eu não sou diferente por isso. Eu como igual a você, eu também durmo, eu também bebo água e faço tudo que você faz, não somos diferentes.
Enfim, acho que isso nunca vai mudar, acho que nunca vamos ser tratados como gente por todo mundo, sempre vai ter aquele ou aquela que vai me julgar por estarmos frequentando o mesmo lugar, é muito triste saber que enquanto não aprenderem a nos respeitar e nos tratar da mesma forma que muitas vezes a sociedade trata uma pessoa branca, sempre haverá racismo e nós vamos sempre ter que lidar com situações como essas.
É muito difícil ser uma mulher negra no mercado de trabalho, principalmente porque detalhes mínimos como o nosso cabelo, vira um ótimo motivo para não sermos capazes de ocupar aquela vaga. Parece ser meio extremo falar que empresas não contatarem alguém pelo cabelo, mas isso realmente acontece, e o principal alvo é o cabelo crespo. Se for muito volumoso então, automaticamente as pessoas já julgam e sempre acham que é sujo… Infelizmente temos que passar por essas humilhações, pois precisamos trabalhar, muitas são mães solos e precisam sustentar a casa sozinha.
Outra coisa que é muito notória, é que não tem parlamentares negros aqui na casa. Talvez isso passe despercebido por alguns, mas para mim é algo que sempre reparei. Eu acho que seria muito importante termos pessoas negras representando a casa e o nosso estado também, talvez assim pudéssemos ter inclusão em algumas pautas. Obvio que tudo que passa por aqui é muito importante, mas na maioria das sessões que presenciei, não ouvi muito sobre pessoas negras, sobre a nossa inclusão e importância na sociedade.
Acho que o primeiro passo para mudarmos isso, é tentando fazer com que os demais parlamentares entendam como é nossa luta na sociedade, o quão difícil é para a gente se encaixar em algo ou sermos encaixados, acho que isso é algo que precisa se pensar.
O segundo passo seria fazer pesquisas, ver o que ta faltando para nós que somos pessoas negras, o que precisa mudar e dar ouvidos e voz para a gente, talvez se nos ouvissem mais, as coisas mudariam e pudessem nos incluir.
E por último, mas não menos importante: tentarem nos entender, tentarem ver o quão difícil é as situações e humilhações que temos que passar diariamente, o quão difícil é pra gente lidar com o peso que essa sociedade impõe em cima da gente. Claro que existem leis que “estão ao nosso favor”, mas poderiam pensar em outros tipos de leis que pudessem resolver essas situações, ou pelo menos metade delas. Mas à cima de tudo, acho que está falando uma representação negra dentro da casa, tenho certeza que essa pessoa iria entender melhor, porquê provavelmente essa pessoa já passou pelo preconceito racial que nós sofremos diariamente.
Autora: Letícia Domingos